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Um livro para falar da vida dos que ficam...

LUCIANA WICKERT • jun. 16, 2019

A ridícula ideia de nunca mais te ver

O que nos faz escolher um livro entre tantos? E, mais ainda, indicá-lo? A sugestão de hoje chegou a mim através de um post de uma amiga leitora para outra pessoa. Um #acaso, uma #coincidência? O título me fisgou: A ridícula ideia de nunca mais te ver, da espanhola Rosa Monteiro. Não recordo bem as palavras da minha amiga leitora, mas era algo sobre a vivência do luto.
Costumo pensar que os livros seguem a minha clínica, os meus impasses, o que é incógnita no momento. A morte tem sido cada vez mais uma questão. Ou melhor, a vida daqueles que ficam é o que me toca. Como lidar com a ausência de um amor que se foi, de pais que não estão mais vivos, de filhos que inverteram a lógica do tempo?
O título deste livro é de uma potência admirável. Consegue condensar em tão poucos caracteres a peculiar relação com a morte. Monteiro, recém viúva, dialoga com o diário da cientista Marie Curie (única mulher a receber dois prêmios Nobel) após o falecimento de seu esposo. Um diário recheado de detalhes cotidianos. Ali se vê um processo de tecimento de memória. Queremos lembrar todos os detalhes daqueles que morreram. É difícil suportar esquecer o ínfimo. Costuramos memórias porque as palavras fazem a vida. E não é á toa que em momentos de dor avassaladora, as palavras parecem nos escapar. Como escreve Monteiro "Falo daquela dor tão grande que nem parece nascer de dentro, como se você tivesse sido soterrada por uma avalanche. E está tão enterrada debaixo dessas toneladas de dor pedregosas que não consegue nem falar." E este trecho me remetou a uma memória. Lembrei de uma ocasião em que uma amiga me telefonou. Queria encaminhar uma mãe que havia perdido a filha a um par de dias. Esta amiga estava angustiada com o silêncio desta mãe. Achava que algo deveria ser feito, que ela tinha que iniciar a psicoterapia imediatamente. Acolhi a sua preocupação e lhe disse: calma, ela ainda não consegue falar.
Cada um tece o luto de uma maneira singular. Mas o encontro causado pelo ínfimo detalhe que rememora a vida com aquele que morreu tem uma forte capacidade de arrebatamento. É a marca de chocolate que lembra a saída do cinema. o chinelo que costumava ficar virado, o cheiro que lembra o afago.
É difícil para eu caracterizar que tipo de livro é este. Mas só posso afirmar que vale a pena ser lido. É preciso dizer que A ridícula ideia de nunca mais te ver não deixa de ser um livro sobre o feminino. Escrevo isto, porque Monteiro também vai colocando em cena as dificuldades de ser uma mulher cientista. Curie foi atacada de modos bem torpes por ser uma mulher. Mesmo assim, é a única enterrada no Panteão de Homens Ilustres. Sublinhe-se a palavra homens. Utilizando hashtags como #culpa, #fazeroquesedeve, #honraraospais, #ambição traz enunciados que falam dos impasses enfrentados pelas mulheres para conseguir espaços na vida pública.
Então, só posso dizer...
Fica a dica!

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Três dicas rápidas: Um podcast sobre sonhos e neurociências. Bem interessante. Para os psicanalistas, o podcast me remeteu bastante ao texto do Projeto (Freud, 1895) https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/10/e-preciso-unir-ciencia-ao-saber-dos-sonhos-diz-sidarta-ribeiro.shtml Histórias de ninar para meninas rebeldes. Histórias de mulheres interessantes narradas por outras mulheres. https://open.spotify.com/show/70aDNolDdT9Q52wZ3twIVk Em tempos de Feira do Livro de Porto Alegre, um podcast com o escritor Luis Antonio Assis Brasil sobre escrita e oficinas de escrita. https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/06/nao-se-ensina-a-escrever-mas-se-aprende-diz-criador-de-curso-literario.shtml Abraços
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Segue dica de um bom material sobre Altas Habilidades e baixo desempenho "na vida". Apesar do foco estar no desempenho escolar e nas estratégias educacionais, o video traz elementos para pensar a singularidade e a necessidade de suporte dos sujeitos com AH/superdotação. Série Diálogos.
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